Especial Bienal: primeiro dia
- taynasmeirelles
- 17 de jun.
- 10 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.
Esse post sobre a Bienal do Livro do Rio de Janeiro 2025 vai para os outros profissionais do livro e para os entusiastas de um mercado literário cada vez mais sadio e com cada vez mais leitores. Aqui narro os erros e acertos que eu identifiquei ao longo do primeiro dia do evento. Se parecer que tô METENDO O PAU, é que eu tô. Mas é com muito carinho!

O Conceito
O que me fez despencar de Cuiabá/MT para participar dessa edição foi ouvir sobre os planos da Bienal lá no podcast do PublishNews. Lá os organizadores contaram sobre como esse evento seria diferente das outras edições. Sobre como tudo tentaria deixar o leitor se sentindo dentro das histórias que tanto ama e eu ouvi isso praticamente gritando YEEEEEEEEEEEES! FINALMENTEEEEEEEEEEEEEEEEE!
Confesso que uma parte de mim tava até um pouco enciumada porque eu sempre quis organizar um evento que encantasse pessoas que amam livros. Mas hoje, só o que está ao meu alcance é prestigiar, então... lá fomos nós, minha esposa (aliás, se você ainda não conhece a Kamila é porque não passou mais de 5 minutos perto de mim porque só falo dela, então é bom já aprender o nome pra não se perder) e eu.

O App
Conforme os dias foram se aproximando do início do evento, fiquei sabendo da existência de um aplicativo da Bienal. Confesso que eu tenho muita raiva de tudo hoje em dia exigir baixar aplicativo próprio. Não cabe tudo isso de app nos celulares, minha gente! Por que a gente não faz sites que funcionam bem no celular? Detesto. Entretanto...
Gostei do app da Bienal. Não me entenda mal, sigo sendo contra, mas pelo menos este foi útil. Gostei de poder selecionar as atividades que eu queria participar, gostei que durante o evento ele enviava notificações do que estava acontecendo naquele mesmo momento e gostei de poder acessar o mapa. E falando nele...
O Mapa
Pra mim, que fui no primeiro dia, o mapa foi lançado muito em cima da hora. A navegabilidade dele não era não boa. Tinha que ficar dando zoom in zoom out porque no mapa só tinha o código do estande, tipo Z02, coisas assim. Então a gente tinha que ir na legenda, procurar o nome da editora de interesse em uma das três listas disponíveis. Conferir se ela foi cadastrada, tipo Intrínseca ou Editora Intrínseca, pra poder entender onde ela estaria na ordem alfabética, ver o código dela e aí SAIR PROCURANDO ESSE CÓDIGO MINÚSCULO NO DESENHO DO MAPA.
Para as próximas edições eu acho que além da legenda, nós tínhamos que poder "pesquisar" na legenda & no mapa. A gente tinha que poder clicar nos estandes e ver os nomes das editoras, já que imagino que não escreveram o nome no mapa pra poder caber dentro do desenho, né?
Se eu tivesse recebido o mapa mais cedo, imprimiria o mapa de um jeito grande pra escrever o nome das editoras dentro dos quadrados e andaria pela Bienal TAL QUAL UMA PIRATA À PROCURA DE UM TESOURO, sabe por quê? Porque uma virada à direita a mais significa exaustão mais cedo, e exaustão mais cedo, significa comprar menos. Gente descansada é gente mais disposta a consumir.
Ah, mas Tayná! Mudar tudo isso no app é caro! Então tá. Vou sugerir uma mudança mais barata: Os mapas grandes impressos nas paredes dos pavilhões poderiam ter sido impressos com os nomes das editoras dentro dos desenhos dos estandes E COM UM ADESIVO DE "VOCÊ ESTÁ AQUI". E se você acha que estou gritando é porque não era você que estava andando com um monte de livro no lombo, então me deixa.
A Roda Gigante: histórias nas alturas
Voltando... o motivo pelo qual eu fui pra Bienal foi viver essas experiências imersivas, né? A primeira que participei foi a Roda Gigante. Compramos o ingresso das 16h30 às 17h30, mas quando chegamos na fila não tinha ninguém conferindo horário. Acho que é por isso que mais tarde a fila estava tão grande, porque não é possível que tudo aquilo de pessoas tenha comprado para aquela faixa de horário.
Mas o que mais incomodou na fila era que muitas vezes ela não estava andando porque tinha alguém tendo preferência pra andar na roda gigante em nome da divulgação. Só enquanto nós estávamos esperando foram três: A Ana Clara do BBB, uma repórter do jornal local e, pasme, um tubarão gigante e muito simpático da prefeitura do Rio.
Chega a ser irônico eles prometendo na frente da câmera uma experiência incrível enquanto atrapalhavam a nossa experiência. Entre os tchaus e beijos que mandei pro tubarão eu pensei: Mas não tinham aberto essa caralha dessa Bienal ONTEM na pré estréia? Por que não fizeram um evento teste para gravação de material e depois foram soltando o conteúdo aos poucos?
MAS ATÉ AÍ TUDO BEM.

O problema não está na fila de uma hora que não dá nem pra sentar porque é na grama... O problema começa quando a gente entra naquela cabine minúscula. Sério. Eu tenho 1,57m de altura (às vezes menos, se o médico não vai com a minha cara) e estava pequeno pra mim. Fiquei imaginando meu cunhado lá. Ele teria que ir sozinho na cabine pra caber os 1,90m dele.
E o tamanho da cabine era só um agravante do problema que consistia na quebra da promessa. Prometeram que nós ouviríamos histórias nas alturas. Que nós nos sentiríamos dentro das histórias.
Mas a realidade era que nós ouvíamos a sinopse OVER AND OVER AGAIN e no final da sinopse da história, vinha o convite para conhecer o estande da Skeelo. Eu tenho certeza que existe algum método de tortura que consiste em colocar as pessoas em locais desconfortáveis e fazer a pessoa ficar ouvindo um som repetitivo sem parar. Meu irmão saberia o nome desse método.
Quanto tempo durou a atração? 5 minutos? 10 minutos? Não sei. Foi o suficiente para a moça que estava na cabine com a gente dizer que se ela encontrasse o estande da Skeelo, ela quebraria ele inteiro. Foi suficiente para que eu, que sou fã de Turma da Mônica e dei a sorte de subir na cabine com a temática deles, sair da roda gigante dando GRAÇAS A DEUS.
Era tão simples escrever histórias que teriam a mesma duração da volta da roda. SKEELO, SE ALGUÉM FALAR PRA VOCÊS QUE NÃO DÁ, ME CHAMA QUE EU SEI ESCREVER HISTÓRIAS CURTAS BEM LEGAIS. Chama a Jana Bianchi, especialista em flash fiction! Chama Divanize Carbonieri, excelente contista! Sei lá! Mas não faz as pessoas atravessarem o país, atravessarem a cidade, pagarem entrada pra Bienal, pagarem 30 reais pra roda gigante, ficarem horas na fila... pra isso.
A Escape Room
Saindo da Roda Gigante, nós fomos fazer xixi naquele trailer chique - muito bom, parabéns - e fomos correndo de volta para o pavilhão 4. A demora na fila fez com que a gente tivesse que passar pelo Labirinto de Histórias sem poder entrar. Um pena, eu queria ter conhecido, mas já estávamos em cima da hora. O que posso dizer sobre ele é que eu esperava que ele fosse maior. Olhando de fora parecia que não tinha muito como se perder ali dentro. Mas, tudo bem. Corremos até a Escape Room e chegamos em cima da hora.
(Ou seja, nós chegamos às 16h10 na Roda Gigante e chegamos 17h55 na Escape Room, só pra você ter noção do tempo que ficamos sem fazer absolutamente nada no evento.)
O tempo dentro da sala era de apenas 10 minutos. Fiquei curiosa para saber como funcionaria, já que normalmente as pessoas tem 60 minutos para conseguir sair. Mas logo descobri:
Fica uma pessoa dentro da sala praticamente contando pra gente o que a gente precisa fazer. São dicas que entregam o que precisa ser feito e ainda bem que eles contam porque o que precisa ser feito não faz sentido.
Começa com um vídeo na TV explicando que, depois de muitos anos, o determinado caso de assassinato foi reaberto por uma produtora de vídeo e estamos quase perto de descobrir quem é o assassino. Por isso, o assassino nos trancou na sala e a gente precisa descobrir quem ele é antes que ele destrua as provas!
Premissa legal, eu tinha ficado animada!
Mas aí começou. Uma das nossas colegas falou: cada uma vai pra um lado para achar alguma coisa...
Tá. Fomos.
Nem viramos, a pessoa que ajuda falou "procurem coisas que estão em destaque". Então nem li o papel que achei. Só li o final que tinha um número 5 pintado. E falei "5".
Isso é se sentir dentro da história? Não. E aí a desconexão vai aumentando. Cada uma de nós falou um número e aí o ajudante falou que tínhamos que colocar esse número nos cadeados, mas qual a ordem? Então... os números não estavam pintados cada um de uma cor? LOGO... A gente tinha que colocar os números na ordem de cores que tinha uma claquete que estava em cima da cadeira. "Ah, mas escape room é assim!" Mas livros, não sããão.
Eu acho que pra dez minutos não precisava ter feito tantos passos (sem sentido). Poderia ser apenas um desafio. Um enigma. Algo que realmente tivesse sentido. E aí a gente não precisaria de tanta ajuda.
Outra coisa... Na explicação do desafio dizia que a gente precisava descobrir quem era o assassino. Mas o fim da brincadeira é achar a chave pra sair da sala... PENSA COMIGO... Tem um assassino no prédio. Não sei quem é. Ele me trancou numa sala. E meu objetivo é sair da sala?? E se eu dou de cara com o assassino? Ele não vai me matar? Ele não estava querendo destruir as provas? Como que eu saio da sala e deixo as provas pra trás?
Se o objetivo era sair da sala, talvez a história da sala tivesse que ser algo como: o prédio está pegando fogo e você tem 10 minutos pra sair da sala antes de morrer queimado. Isso é legal. Isso faz sentido.

Eu e uma galera ainda estávamos tentando entender o nome do assassino (ué não existia) quando a porta da sala foi aberta e a brincadeira tinha acabado.
Mas não tinha que descobrir quem era o assassino???
Ganhamos no susto. Saímos de lá sem saber o nome do livro que inspirou a sala. Sem querer ler mais sobre a história.
E eu tinha entendido que a ideia era essa, né? De promover os livros. Será que alguns autores foram consultados para ajudar a criar essa adaptação pra Escape Room? Eu tenho a sensação que não.
Palestra da Chimamanda
O lado positivo foi que, como a Escape Room era no Pavilhão 4, às 18h15 já estávamos no local de onde seria a palestra da Chimamanda às 19h. Ou seja, chegamos com 45 minutos de antecedência do horário marcado e o tamanho da fila era de assustar. Dava pra ver que quem estava no final da fila não conseguiria entrar para sentar. Então já fomos procurar uma grade para nos apoiar.
O evento acertou em montar o palco em diagonal em relação ao pavilhão, formando muito mais área de grade para as pessoas que ficam do lado de fora poderem assistir ao evento.
O evento errou no fato de que quando deu 19h e estavam todos em pé, a postos, deveriam ter nos comunicado que a palestra atrasaria. E atrasou MUITO.
Imagina: Quando deu 19h, todos que estavam do lado de fora ficaram em pé para assistir a palestra e/ou talvez conseguir um lugar mais para frente. A palestra começou 19h50. Ou seja, ficamos 50 minutos em pé sem uma pessoa ir no palco e nos dar uma satisfação. Mesmo quando o público começou a gritar "Começa! Começa!" ou quando gritaram "Chimamanda, cadê você, eu vim aqui só pra te ver". Nenhum pio. Só (mais) uma propaganda no telão passando em looping.
Quando eu não aguentava mais, a Taís Araújo entrou no palco. Anunciou a Chimamanda. Ambas sentaram. Taís explicou que ela falaria em português porque a Chimamanda teria um tradutor simultâneo no ouvido, e a Chimamanda falaria em inglês porque teriam legendas no telão.

Ou seja, a pessoa cega precisaria saber ouvir inglês, né? Porque até tinha no telão um intérprete de LIBRAS. E por que eu tô ressaltando isso? Porque o evento não estava NADA acessível. Eu andando, caí em vários buracos escondidos sob a estrutura. Pra uma roda cair ali, era só... ela passar ali. Os estandes não permitiam que uma pessoa cadeirante circulasse. Era tudo muito estreito. Mas isso, fui eu, que não tinha questão nenhuma de locomoção, apenas observando. Eu realmente recomendo buscar mais informações com gente que entende sobre o assunto. Um evento sobre livros não pode não ser inclusivo.
Mas, voltando à palestra, você já deve imaginar que a Chimamanda não tava ouvindo nada naquele fone dela.
Você também deve imaginar que o telão deu pau.
Taís chamava pessoas da produção. Ninguém aparecia. Ela, fodona, levantou e foi no backstage resolver sozinha.
Voltou com a editora da Chimamanda que, até o momento que a gente permaneceu, ficou de cócoras ao lado de Chims traduzindo o que Taís perguntava e traduzindo pro público o que Chims falava (Sim, a essa altura eu já estou íntima da Chi).
Três heroínas que venceram o constrangimento, o cansaço físico, o incômodo de serem interrompidas e se viraram nos 30 para poder conseguir transmitir um conhecimento de qualidade, apesar da equipe da Bienal presente.
Completando 8 horas de evento, voltamos para o hotel antes do fim da palestra.
Por fim...
O saldo do evento é positivo. Nada tirou o sorriso do meu rosto. Eu me diverti demais. Paguei 30 reais numa pipoca pequena dando risada.
Minha expectativa não era de viver um evento perfeito. Era de ver um evento literário se reinventando e eu vi! Era de conhecer pessoas que admiro... conheci. Era de comprar os livros que estavam na minha lista... comprei.
Me encantei com o olhar das crianças se apaixonando pela leitura. Os alunos se divertindo com o trono da Loira do Banheiro. A equipe da limpeza vendo o Machado de Assis conversando com os transeuntes.
Vi meu pessoal da leitura arrancando o plástico protetor dos livros e sentando no chão ali mesmo para devorar uma obra. Uma parte de mim olhava aquela multidão sentada no chão e concordava quando a Kamila falava: por que não fizeram um espaço de leitura, um espaço de descanso, já que a ideia é a gente aguentar passar tantas horas carregando peso e andando tanto? Já a outra parte de mim, estava sentada no chão fazendo a mesma coisa.
Mas essa sou eu, que já faço parte dessa turma. E todos nós sabemos que, pelo bem do mercado e pelo futuro do país, precisamos que essa turma seja cada vez maior. Então precisamos deixar o que já é bom, ainda melhor, né?
Quero muito fazer parte dessa mudança.
Contem comigo e com meu tough love de sempre!

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