Hiperlordose: Tradição x Amor
- taynasmeirelles

- 5 de jun de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de jun de 2024

Eu ia chamar o texto de hoje de Parnasianismo do Amor. Eu adoro a palavra 'parnasianismo' que aprendi em alguma aula de literatura do ensino médio com a professora Walquíria (será que o nome dele era com W?) que dizia que os textos parnasianos se importavam muito mais com a forma do que com o conteúdo.
O que isso tem a ver com a foto do post? Calma, porque se fosse um raciocínio simples eu tinha feito um tweet.
Voltando...
Uma vez eu li um livro chamado Pequenos Deuses de Terry Pratchett que contava a história de um deus que voltava de tempos em tempos para o seu povo nas mais variadas formas de animais poderosos, como um boi gigante, mas que dessa vez tinha voltado como uma pequena tartaruga.
Ele acabou descobrindo que sua força vinha de seus fiéis e que na verdade ele só tinha um último crente. O restante da sociedade da ditadura religiosa não acreditava mais no deus, mas na forma como cultuá-lo.
E eu pensei muito nisso nesse final de semana, porque hoje foi aniversário de 32 anos do meu irmão, Caio. E aniversário nos "obriga" a celebrar, e celebrar nos "obriga" a gastar dinheiro com bolo, comida, bebida e presentes. E celebrar também exige um tempo na nossa agenda. E foto. E post com foto e marcação nas redes.
"Ah, mas isso é invenção do capitalismo"
Foda-se, sabe? E daí que algum publicitário maligno inventou essas tradições em algum momento no passado? Se eu não ganho os posts de homenagem no meu aniversário eu fico triste, sim. O contexto que a gente está inserido importa porque influencia nas nossas expectativas.
"Ah, mas é só uma data. O que importa é o que vocês vivem todos os dias"
Tá, mas se a gente não coloca esse freio pra celebrar, passa um, dois, três anos e daqui a pouco a gente só ama de longe e em silêncio.
Só que...
Ninguém estava com clima de comemorar este ano, neste momento, nesta data. Caio faltou chorar de exaustão quando perguntei a ele como ele queria comemorar no fim de semana. Ontem, eu estava quase dormindo em pé no bar.
E, apesar de eu ter ido ao bar, tê-lo visto hoje de manhã, eu não consegui parar de me sentir a pior irmã do mundo por ter pego a estrada e passado o dia longe dele. Mesmo sabendo que tanto ele quanto eu tínhamos obrigações de trabalho a cumprir e nós não estaríamos comemorando se estivéssemos juntos.
E pior! Esse ano, nós dois fizemos uma roadtrip juntos só nós dois (onde registramos o momento da foto) e foi tão maravilhoso. Só nós dois nos refazendo e refazendo nossos laços. Vivemos coisas tão legais e tão importantes...
Mas a culpa causada pela pressão de qual é a forma correta de se demonstrar o amor ainda me consumiu.
E aí, em algum momento da estrada que eu peguei hoje, eu tava refletindo sobre esses eventos sociais que as pessoas se forçam em fazer pra não passar em branco e as outras pessoas se forçam a ir em nome da tal da consideração.
E o resultado é todo mundo infeliz, cansado, frustrado, com menos dinheiro no bolso e mais ressentimento uns pelos outros. Tudo em nome de um amor. Ou, pelo menos, de um formato ideal de amor.
Então, eu deixei a culpa em algum lugar no meio da estrada entre Cuiabá e Chapada porque o Caio me amou o suficiente pra acordar cedo em pleno domingo do próprio aniversário pra trabalhar em prol da realização de um sonho meu. E eu o amei o suficiente pra deixá-lo em paz o quanto eu pude (acredite, isso é muito difícil pra mim).
Falei ontem e falo de novo: Caio é a pessoa com quem eu não preciso segurar um sorriso e uma máscara social. Logo, também é a pessoa com quem eu vou ter comemorações inusitadas e sem sentido. Se isso não é parabenizar pelo ser incrível e demonstrar ser grata por sua vida, eu realmente não sei o que mais seria.
Já aviso: Vamos trocar bolo por pudim em setembro. Ou sei lá em qual mês nós vamos colocar meu aniversário esse ano e é isso.
Caco, te desejo um aniversário possível e uma paz alcançável pra você. Mas, mais que isso, desejo que você durma bem!
Boa noite!


Porra! É isso mesmo. Tomara que consigamos celebrar mais, e conseguir não deixar essas obrigações na frente do que é importante